quinta-feira, outubro 14, 2010

"As estrelas são sóis muitos distantes. O sol é uma estrela, bem perto" (John Vaz).




"Mas não subiu para as estrelas, se à Terra pertencia...".

São as últimas palavras do livro "Memorial do convento", quando Baltasar é queimado num auto de fé, na Idade média, enquanto sua Blimunda assiste a ele e chama sua alma para si. Não tinha mesmo que subir a lugar algum, porque a ela pertencia, à mulher, à terra.
Serão, pois, essas as palavras que ficarão gravadas na lápide em homenagem a Saramago, no local onde quedarão suas cinzas. Acho justo, já que ele gostava tanto do nosso planeta e acreditava no homem, em seu trabalho... Sim, acho que ele cria na humanidade. Seus romances nunca chegaram ao fim sem uma gota de esperança que fosse nisso.
Tomara que chegue aqui ao interior o filme novo sobre a vida dele com a Pilar.
Quero muito ver na tela um pouco do que vi quando os conheci na ABL, em 2008... É uma delícia lembrar que já estive inúmeras vezes no local onde o filme foi estreado, no Rio. O Espaço de cinema Unibanco, em Botafogo é muito agradável, a vista é bonita também. Não podia haver espaço melhor no Rio.
Mi.





À procura
 
Andei pelos caminhos da Vida
Caminhei pelas ruas do Destino -
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei na casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a porta da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez me beber de seu vinho.
Acertei meu caminho.
Cora Coralina.




Crer é poder sentir

Não gosto muito de expor meu ceticismo. Não acho bonito e soa meio sei lá... arrogante? É... acho que sim. Quem afirma não acreditar em nada parece que está excluindo de si tudo aquilo que não consegue compreender, ou sentir. E eu até que sinto (=creio) em muita coisa...
É isso. É como meu amigo Peter falou agora há pouco: é preciso sentir pra crer. Se eu consultar meu coração, ainda sinto bastante coisa, mesmo depois de tudo o que li, sobretudo, as leituras saramaguianas que, se não nos tornam amargos, no mínimo, sacodem de nós toda poeira das ilusões.
Ninguém pode dizer que Saramago não cria em nada, porque cria no trabalho e, mormente, no amor. Em todos os seus romances, "o amor se cumpre" (palavras dele!).

Mas não foi pra falar dele que vim escrever. Foi pra falar de mim mesma... do quanto preciso acreditar mais em Deus, na vida e no amor. Fortalecer essas sensações. O ser humano precisa crer em algo. Nem que seja em si mesmo. Não há como negar a existência de uma energia divina. Só é difícil crer em alguém que presida isso tudo sozinho, manipule sozinho ao sabor de interesses particulares.



Talvez, se eu não tivesse ouvido falar em "Desconcerto do mundo" (Camões), e se não tivesse sentido as suas palavras da forma como as senti... Se ainda nem houvesse compreendido profundamente que as injustiças e dissabores ocorrem, às vezes, sem o menor sentido... quem sabe... eu seria mais ingênua, menos cética...
No que mais acredito (=sinto)?
Deixa ver... Na necessidade que temos um do outro. É essa interdependência , a busca um pelo outro por motivos vários, que justifica as existências, é o balé das energias que faz a roda do mundo girar. Isso, sim, faz todo sentido pra mim.
Mi. 


Tocando em frente

Ando devagar
Porque já tive pressa
Levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe,
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nos compõe a sua historia
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz!...


Mulheres livres, independentes?
(Somos mesmo?)


Nós mulheres lutamos tanto pela independência, por nossa liberdade, pelo direito ao voto, à participação efetiva na sociedade, não como meras chefes de famílias; mas como cidadãs, profissionais, mães, filhas, esposas, avós. Queremos exercer todos os nossos papeis conciliando-os à equidade em relação aos homens.

No passado, lutamos a favor do direito de podermos segurar nas mãos um livro ao invés de um filho em tenra idade, para amamentar e criar. Reinvindicamos à chance de escolher os nossos pares (Quanto progresso!). Hoje, no entanto, diante de menos entraves e mais portas abertas (escancaradas), o que temos feito da liberdade de expressarmos nossas escolhas? Optamos mal! Muuitas vezes, nosso dedo é podre. Optamos pelo par errado pra nós, seguimos o caminho contrário.
Mass, deixa eu ver se entendi... queríamos tanto fugir dos casamentos arranjados, e hoje não sabemos o que fazer com a chance de mandarmos em nossos destinos? Muitas vezes, sim. É tão sutil...

Às vezes, há quem sinta saudades daquele tempo em que os pais podiam fazer nossas próprias escolhas. Tiravam dos nossos ombros o fardo da responsabilidade de escolha. É verdade!... Havia quem culpar, e hoje? Culpamos a nós, ao destino?... À sorte ruim. Tínhamos o benefício da dúvida... ("Mas se eu tivesse escolhido meu caminho, seria tudo diferente!", talvez tenham dito nossas antepassadas). 
Mesmo num país como o Brasil, onde a qualidade de vida em determinadas regiões são mais carentes em todos os sentidos (até na sociabilização), há portas abertas, opções, variedade. Embora, claro, haja mais mulheres no mundo, complicando com tanta concorrência.

Mas fazer o quê? Isso faz parte do ardil, da artemanha da Mãe-Natureza para garantir as gereações da nossa espécie. Afinal, é a mulher quem mais procria...
Com tudo isso, por vezes, são as nossas próprias mãos femininas que fecham as compotas do céu, as janelas com vista para a felicidade...
Diante de tantas incertezas e culpas por decisões a sós e equivocadas, ainda prefiro a paisagem que dá direto para a minha liberdade de poder selecionar, nem que seja assim mesmo, sozinha, os caminhos que desejo seguir.
Liberdade? Independência TOTAL? Não, não existe... Estaremos sempre reféns de algo. Mudam-se os tipos de dependências apenas. Dependentes, sim, de afetos, de sonhos que nos comprometem... Sobretudo, estaremos constantemente dependendo dos nossos erros para sabermos acertar melhor nossos alvos. Para quando alcançá-los, construirmos outras dependências e cometermos mais erros, rumo a novos acertos: ciclo sem fim.
Mi.

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