sexta-feira, outubro 15, 2010



 
 
DESTRUIÇÃO
 
 
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada, ninguém.

Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir mas o existido
continua a doer eternamente.
Drummond.


Sexta-feira de Primavera sem flores

Hoje acordei um pouco tarde. Havia me recolhido muito tarde também. E ainda há aquele bocadinho de tempo destinado ao repassar, na memória, as últimas imagens vistas; além dos pensamentos persistentes, já que sempre temos um!
Nos sites, pela manhã, várias notícias de casais se separando, divórcio etc.
Está cada vez mais comum isso. Ainda me impressiono e, me impressionar, revela o quanto ainda sou imatura. Chegará o dia em que nada me espantará mais tanto assim?
Talvez, os anos me tragam essa benesse horaciana, ricardiana (Fernando Pessoa) de poder apenas contemplar o espetáculo da vida impassível, inerte.
Só me resta aguardar a espera de mais anos.

Não acredito que já tenha havido mesmo um tempo em que casais ficavam juntos sempre porque queriam e se amavam de verdade. Acredito, porém, na existência de pessoas que vivem assim, ou já viveram. Não necessariamente por aquele amor romantizado, mas, sim, motivado por muita vontade. Não são as vontades que constroem sonhos???

Não é questão de tempos modernos ou obsoletos, mas de vontade que se dá ou se deu em qualquer época. Quando se deseja muito alguém, na maioria das vezes não amamos esse alguém como se prega que seja o amor.
Tantas vezes, odiamos a pessoa, queremos que seja diferente, olhamos obliquamente (como diria Machado). Mas é a vontade de estarmos juntos que nos faz ficar ao seu lado, aconteça o que acontecer.

Quanto mais não seja... lembrei deste poema de Drummond: "Destruição", que fala sobre como destruímos o Outro para amarmos nossa projeção neles. Mas me serve de conforto pensar em laços desfeitos sob este ângulo: de que precisamos ser livres para amarmos a nós. Não esquecendo que há sempre mais de um ângulo, mais de uma perspectiva. E também a certeza de que nenhum separação, nem um tipo!, nos passa tão indolor quanto, por vezes, gostaríamos...
Mi*  




Outro mar
(Luiza Possi)


Não digo mais nada
É melhor ficar calada
Que machucar seu coração
Palavras não desistem
De alcançar o entendimento,
No nosso caso, discussão.

E eu tenho medo...
O silêncio quer gritar:
Que me perdoe.
Eu não posso mais ficar,
Eu não quero mais!

Abro as portas pra vida
Pra ser vivida.
Abro os meus braços pro mundo,
Tô livre sem rumo.
Fecho meu corpo pra dor,
Porque ainda é cedo pra viver um novo amor.

A festa acabou,
Meu vestido puiu,
Nosso copo secou.
Na última dança,
Pisei teu sapato,
A orquestra parou.

E eu tenho medo
O silêncio quer gritar:
Que me perdoe!
Eu não posso mais ficar,
Eu não quero mais.


Abri as portas pra vida,
pra ser vivida!...
Abri meus braços pro mundo,
Tô livre e sem rumo.
Livrei meu corpo pra dor,
porque ainda é cedo pra viver
um novo amor.
E quando essa hora chegar,
Impossível não saber...
Sou um rio correndo pro mar,
Para alto mar...
Para outro mar!

Abri as portas da vida, louca vida.
A.bri meus braços pro mundo
Não tô mais sem rumo.
Livrei meu corpo da dor.
Porque chegou a hora de viver um novo amor!
Novo amor...

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