sexta-feira, junho 18, 2010


Vá em paz, Saramago!
Adeus ao punho de ouro da Literatura Portuguesa


Passei amanhã absorta fazendo umas coisas e, só mesmo após o almoço, liguei a TV e o computador. Entrei no Orkut e li a mensagem da Mirella "Lá vai Saramago em sua jangada de sonhos". Claro que logo pensei "Será que ele morreu?". Pois que muitíssimo infelizmente, sim. Abri imediantamente o site do Globo e li tudo o que transmitiram hoje sobre a morte do "meu" veinho rabugento. Fiquei muito, muito triste. Não me envergonho em dizer que chorei compulsivamente. Fui acometida por uma sensação de enorme vazio, como se todos os romances saramaguianos que eu li tivessem, de repente, perdido suas páginas e em todas onde havia letras, apenas um "mar branco", vazio e silêncio. 
E eu que havia voltado a ler Saramago, após meses lendo livros de Mia Couto...
Não sei explicar direito... mas como escritor e como ser humano (admirável pra mim) ele representou muito em minha vida. Costumo pensar que as leituras de sua obra me dividiram, enquanto leitora, em duas Michelles.
Sem dúvidas, as fortes opinões sobre política e religião que ele tem (ele tem!) alteraram meu jeito tolo de ver a vida, porque eu acredito que a leitura muda as pessoas. Eu mudei.  Desde a faculdade, minha especialização e mestrado me fizeram mergulhar nas letras de JS e não havia como sair de dentro sem alterações no meu psicológico.




Memorial do convento e sua Blimunda. Ensaio sobre a cegueira e sua Mulher do médico, sem contar com Maria de Magdala em O evangelho segundo Jesus Cristo, todas estas mulheres me fascinaram, pq eram fortes, anti-heroínas, mulheres comuns... E não a romanticamente idealizada de A divina Comédia com sua Beatriz santificada. Estas mulheres todas passaram a viver dentro de mim, a agir dentro de mim.
Enquanto eu me preparava pra Defesa, ano passado, soube da vinda de JS à ABL, no Rio, e foi uma tarde tão alegre, apesar do seu aspecto fragilizado, saindo de uma pneumonia que o deixou internado por meses. 
Adorei quando perguntaram se ele achava que sua recuperação física era um auxílio divino. Queriam saber se, então, ele acreditava em Deus. Sua resposta foi hilária! Adorei... A cara dele mesmo. Radical!... Cheio de lucidez, embora com leucemia e muito fraco fisicamente.
Portanto... quis postar aqui minha pequena homenagem, minha convicção de que ele está imortalizado em suas paginas (preenchidíssimas!) e que, em minhas palavras, se cristalize minha tristeza por termos perdido um dos punhos de ouro da Literatura Portuguesa. Mas sua voz ficará gravada em seus livros para quem se identificar e quiser amadurecer com elas. A cadeira que  iria ocupar, este ano, na Academia Brasileira de Letras continuará vazia, porque definitivamente não há como substituir José de Sousa Saramago, o Zezinho de As pequenas memórias.
Michelle.

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