segunda-feira, junho 21, 2010


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Há quase dois anos, vimos Saramago e Pilar chegarem ao prédio da Academia Brasileira de Letras, no Rio, de mãos dadas, como dois jovens namorados. Pararam em frente à estátua do nosso Machado e o contemplaram por alguns instantes com olhos turistas, investigadores. Hoje, no entanto, me angustiei diante da foto triste em que Pilar o contempla com seu olhar cheio de pesar (eu acho).
Nas inúmeras reportagens a que assisti sobre sua obra, vi-o falar (e demonstrar!) um amor profundo e imenso por ela. Disse, certa vez, que se não a tivesse conhecido morreria muito mais velho... Isso comove até os céticos.
Meu amigo português não entende pq gostamos de ler Saramago, visto que não é muito benquisto em seu país, embora o seja aqui no Brasil. Continuo me sentindo "desolada", como me disse o Capuano. É a palavra ideal. Nós pesquisadores da obra saramaguiana nos sentimos meio ófãos e sem saber o que dizer, como se ele tivesse levado todas as palavras para um retiro sem volta. Eduardo Galeano disse "Saramago continuará falando por seus livros". Sabemos que sim. Toda vez que abrimos um livro seu, lá estará ele, triufante, vivo! Mas não haverá outras novos textos, continuamente inéditos. Assistimos a um momento triste de adeus a um autor que ficará registrado na memória literária da nossa época. Penso que deve ser a mesma tristeza que os leitores de Machado possam ter sentido quando da sua partida, talvez na altura em que Camões se foi também tenha deixado abalados seus amigos e leitores. Porque é assim que nos sentimos: amigos de Saramago que vão viver sem suas ideias nos jornais, nos blogues, na TV etc.; sem suas palavras, sem suas opiniões enfim! Esta é o nosso tempo, nossa dor, nossa perda de enriquecimento literário que, por anos, foi contínuo.
Michelle.





A.g.r.a.d.e.c.e.n.d.o.

Agradeço aos amigos e amigas (colegas e antigos professores) que me escreveram dividindo a angústia por termos perdido nosso "extremista, populista" (muitos risos) como acusou o Vaticano. Agradeço à Jane, "cria" da mesma professora que me orientou. Ela me emocionou com seu texto e com sua expressão triste na TV, enquanto ela presenciava o enterro de Saramago em Lisboa. Levei um susto ao vê-la em "Directo", mas imaginei que, estando em Portugal, ela fosse mesmo... A todos, meus obrigadas por dividirmos juntos essa perda...
Mi.

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