Desapego
Ciúme, sensação de posse, dor, choros e lamentações.
É natural que, em nossos tenros anos, nos deixemos levar por sentimentos assim, diria... pouco nobres, nada plausíveis.
Mas a verdade (a grande verdade) é que conseguir nos libertar desse turbilhão de sentimentos e contrastes que, por algum tempo, viram inquilinos dos nossos corações, parece uma tarefa hercúlica, homérica, dantesca... Mesmo para quem já atingiu a idade adulta. É uma eterna guerra subterrânea.
Hoje, um vento de melancolia atravessou minha noite, justamente porque me vejo ainda degladiando interiormente com alguns desses sentimentos. Isso só me revela o quanto ainda preciso crescer, embora precise conhecer os inúmeros degraus já subidos, os tantos sentimentos ruins que consegui riscar da minha lista negra.
Porém, não vou me culpar a noite inteira, quero que esse vento ruim sopre longe de mim, em outras direções, espero que desertas. Sei que ainda preciso amadurecer muito e aprender a conviver com minhas próprias intempéries.
Machado diria "Todos os contrastes estão no homem". Saramago, a seu turno, diria "Só o homem consegue sentir tudo de uma só vez". Sinto meu tudo e meus nadas também. Aflição, vento ruim...
Vou me equilibrando entre me sentir sozinha e em companhias. Travando e destravando lutas interiores, às quais sinto dadas as tréguas, enquanto, aqui dentro, saiba que a guerra ainda não acabou. Talvez, passe muitos anos em diálogos e discussões comigo mesma, até encontrar um sentido, um equilíbrio real para as coisas.
Vim respirar nas palavras... Tentar sentir outros ventos.
O meu livro "Iaiá Garcia" (Machado) acabou. Talvez, isso tenha contribuido também pra eu me sentir sozinha. Preciso de leitura. Compulsivamente.
Já devorei sites sobre a Guerra dos Farrapos, a Guerra do Paraguai, seguidas de pesquisas sobre as fases da literatura machadiana.
Lembrei muito das aulas da Ceila, no mestrado. Reclamava um pouco, pq achava cansativo analisar as diversas edições de um mesmo livro e suas problemáticas. Mas havia o lado bom... ficar sabendo de fofoquinhas literárias acerca da vida de Eça e de Machado foi tão legal. As colegas tb... Queridas! As idas ao café nos intervalos das aulas, as conversas, as preocupações com o trabalho final...
Bem...
Vim escrever para praticar o desapego do meu espírito ao dele. E, como sempre, as palavras me deram as mãos, me conduziram a lembranças distrativas e sopraram, em meu coração, um pouco da paz que o murmúrio doce e fresco dos versos sempre traz.
Agora, só penso no lindo domingo de Páscoa que desejo a todos!...
Mi.