segunda-feira, agosto 03, 2009

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Tamanho único
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Saramago escreveu um livro, chamado "O homem duplicado" que trata, todo o tempo, sobre esta questão da autenticidade numa época em que nascemos originais, e nos tornamos cópias uns dos outros. Cegos que não reparam que o capitalismo nos torna meras duplicações (vide as idas aos shoppings, onde vemos uma multidão de loiras de cabelos chapados, parecendo um desdobramento infinito de Evas).
Por que temos que todos nos rendermos aos MP3, MP4, MP100000, aos aparelhos ultra modernos que se impõem nas vitrines como uma verdadeira Esfinge?: "Compra-me, ou devoro-te!".
Há livros que nos colocam em diálogos com as maiores inteligências que se personificaram na Terra. É bem verdade que gostaria de ter uma dinâmica de leitura mais acelerada, conversar mais com estas vozes que falaram (e falam) por aqui, mas não saberia administrar tanta informação. Confesso e reconheço minha limitação, mas escrevo para mostrar que, se não converso com eles agora, converso ao menos com meus próprios pensamentos. E descubro que todas as minhas potencialidades e limitações me modelaram como sou e me desenvolveram um tamanho único, que às vezes fica meio folgado, ora apertado, ora me dá até um certo desconforto, mas é meu tamanho, e vai para além da altura dos meus sonhos*, fazendo limites com os limites do Universo.
Pessoa*/ Michelle.

RAZÃO DE SER
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Escrevo.
E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
Paulo Leminski.



Uma Diva
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Meados de 2006 foi uma das épocas em que me sentia mais perdida. Passada a graduação e a Pós, tudo parecia meio desfocado e sem destino. Nada à vista. Um caos interior. Meu amor partido em três pedaços: Passado, Presente, Futuro. Perdida no meio destes três caminhos (Qual seguir?). Ainda foram precisos mais alguns anos para que esta resposta viesse. Estou vivendo esta resposta. Não foi exatamente a que meu coração me deu, mas a vida quem me respondeu com o Presente. Fui escolhida pela Resposta, digamos assim...

Esta volta cronológica toda é apenas para me situar, também historicamente (pessoal), no ano em que conheci uma Diva francesa. Nas idas ao Liceu, na Senador Dantas (ainda na cidade) as aulas de francês me deram algumas palavras aprendidas, os pronomes certamente; deram-me meu amigo Rafael Adelino, que se foi pro Paraná; e me deram ainda Edith Piaf, sua voz em "La vie en rose".
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O Rafa foi, mas antes de ir, tivemos um ano ainda com vários encontros na Carioca, onde ficavámos sentados, conversando sobre planos, sonhos, livros, maluquices juvenis, poesias. Em nossas fofocas literárias, falávamos sobre Piaf, acerca do filme que programos ver juntos, no Odeon (Cinelândia). Acabos não indo. Ele foi e me deixou um CD cheio das melhores canções da Diva, cheio de fotos nossas pela centro do Rio, no CCBB (a paradinha para um descanso no charmoso Café do Centro Cultural).

Sempre que a ouço lembro de como o Rafa a adora. Lembro deste amigo querido que me faz rir muito com suas histórias amorosas ardentes. E ele ainda me manda ler "O amante de lady chatterley" para visualizar suas aventuras (Amo-te, meu "menino maluquinho"!).
Ouço a Diva também pensando em quão perturbada foi ela...
O GNT veiculou, agora há pouco, um documentário sobre sua vida pessoal. Nunca havia assistido a este programa. Vi vários, não este. E vê-la me remeteu àquele ano de 2006, em que minha vida parecia as paradas águas de um lago. Foi a voz de Piaf que, por vezes, conseguia agitar estas águas mansas, fazê-la seguir rumo a algum mar interior aqui dentro de mim, ainda que no breve espaço de uma canção em meados da década de 2000.

Mi*
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Non, Je ne Regrette Rien
(Tradução, pq meu francês é limitadíssimo
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"Não, absolutamente nada
Não, eu não me arrependo de nada
Nem o bem que me fizeram
Nem o
Isso tudo me parece indiferente
Não, de jeito nenhum
Não, eu não me arrependo de nada
Está pago, varrido, esquecido
Dane-se o mundo
Com minhas lembranças,
Eu alimentei o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Eu não preciso mais deles
Varridos os amores
Junto a seus aborrecimentos
Varridos para sempre
Vou recomeçar do zero
Não, de jeito nenhum
Não, eu não me arrependo de nada
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, tudo me parece igual
Não, de jeito nenhum
Não, não me arrependo de nada
Pois minha vida
Pois minhas alegrias Hoje
Isso tudo começa com você".

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