domingo, agosto 02, 2009



"O tempo é o lenço de todas as lágrimas" - Mia Couto.
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Todos somos Um
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Quis brigar com o Tempo. Medir forças com as suas forças. Mostrar-lhe o quão faço parte dele e ele de mim. Quis fazê-lo reconhecer que, se somos da mesma natureza, eu tinha direito de vencer a guerra, eternizar um amor que nem mesmo ele/ tu, Tempo, faria diluir. Mas passou/ passaste por mim, sem cessar. Nem por um segundo, me deixou passar sozinha. Esteve ali, me rodeando, me atravessando, grudado a tudo que me tocava e quanto eu vivia, enleado a mim, aos meus cabelos, ao meu corpo, aos sonhos que sonhava durante o banho, ou em meio a um mergulho na cama. Não pude deixar de notar sua presença. Mesmo quando não quis vê-lo passar, ele não se importou e desfilava diante de mim, dentro de mim, pelas minhas veias, entrando em minha respiração. Há 29 anos respiro-te, Tempo. Somos nós dois, de mãos dadas. E quando eu buscava um grande amor, era por te compreender que eu procurava, era para aprender sobre mim mesma que eu saía às festas, à praia, à faculdade. Era para me reconhecer na sua presença que tantas vezes chorei diante da face incompleta do amor.

Vejo, agora, que todas as minhas buscas foram por mim própria. Como naquele poema em que Pessoa parece ser o Eros em busca de sua Pisquê (vice-versa), mas na verdade esta busca era por si próprio, por se localizar e entender esta localização na vida, diante do mundo, das pessoas, diante de si mesmo frente ao universo.

És um amigo querido, Sr. Tempo. Hoje quis vir aqui, agradecer-te pelas horas que julguei mortas, mas que de mortas só havia minhas expectativas, momentaneamente, sem respirar. Vens passado comigo pela vida, e ao teu lado, amigo, tenho reconhecido que minhas ilusões são meros joguetes teus, instrumentos de pesquisas (de auto-pesquisas), as vias de acesso a mim mesma, a esta consciência que pulsa aqui dentro, debaixo dos barulhos da minha mente, dos conflitos em minha'lma, latentes na bagunça que faço no meu coração.

A ti, meus aplausos, meus agradecimentos, meu pedido de que fiquemos juntos. Tu e eu, nós e o mundo. Somos todos um, e nos desdobramos um no outro mediante a consciência que nos liga e nos religa a algo divino, sem nome, mas divino.

Mi*


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