quarta-feira, agosto 05, 2009


Valsa para uma menininha
(Toquinho e Vinícius de Moraes)
...
Menininha do meu coração
Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha, não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção
Senhorinha levada
Batendo palminha
Fingindo assustada
Do bicho-papão
Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim
E você vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho-papão
Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
E também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo o que eu falei...



Guardadora de memórias
...
O que você faria se toda a sua memória fosse apagada?
Em 1999, o jovem americano Nicholas Sparks escreve o livro que trata, entre outros temas, do resgate de memórias através da escrita memorialística. "The notebook" foi adaptado para o filme de nome "Diário de uma paixão" e traz a história de
Allie Calhoun, uma senhora que perde a memória para as mãos do mal de Alzheimer. Ela tem, no entanto, ao pé de si a doce voz do marido Noah, narrando a história dos dois.
...
Internada ela, internou-se ele por vontade própria. Desejava que a leitura do diário despertasse a mulher com quem se casou, que devia estar escondida em alguma parte da memória esquecida cujo acesso foi interrompido pela esclerose. Alguns milagrosos minutos de lucidez fazem-na emergir das profundezas de seus auto esquecimento e a despertam de um sono profundo.

A autobiografia aqui se cumpre propriamente!... Este é o seu papel: guardadora de memórias. Seu projeto não é malogrado por não conseguir representar a realidade com exatidão. Escrever/ criar, guardar/ lançar garrafa ao mar, reler/ reviver/ recriar o Passado.
A escrita pessoal auxilia no não apagamento da identidade do sujeito, reavivando suas lembranças como um retrato antigo restaurado.
Como Noah, muitas pessoas praticam a escrita íntima.
...
Gosto de perguntar às amigas escritoras por que escrevem. Fico observando-as narrar este porquê e num minuto mergulham pra dentro de si, se arrastam pela lembraça de um texto que, algum dia, escreveram... Elas somem e me delicio vendo esta auto entrega às afáveis mãos de um ludismo verbal. Ficamos apenas eu e a voz de seus corações.
Pergunto a mim mesma. Por que escrevo? Cada dia, uma resposta nova. Escrevo porque preciso, porque acredito.
Um dia, quem sabe, precise refazer os caminhos de volta a um Eu perdido, guardado no Passado. Quem sabe estes versos tortos (meus fios de Ariadne) possam, de alguma forma, me conduzir para fora dos meus labirintos, me impedir de ser devorada pelo Minotauro do esquecimento. E estas palavras serão meu Noah, o trilho de volta pelos caminhos-horas-passadas que completam os caminhos-horas-presentes. O que eu faria se minhas memórias se apagassem? Simplesmente desapareceria...

Mi*

Nenhum comentário:

Postar um comentário