terça-feira, agosto 11, 2009


Porque gosto de Saramago
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Certa vez, Roland Barthes escreveu o texto "Porque gosto de Benveniste". Eu, hoje, quis declamar o meu "Porque gosto de Saramago" e me vi viajando pelas lembranças de todos os livros seus que li, de modo que me perdi deliciando-me com a lembrança de um e outro personagens.
Todos os dias, entro no seu blog e lá está um novo texto, ou um antigo que sinto vontade de reler. É um desassossego que encontra sossego no breve tempo que leva a leitura. Lendo-o, vejo os pensamentos que lhe atravessaram as emoções naquele dia e aprendo, demasiado, com sua escrita, porque me identifico, porque ele narra espontaneamente como uma simples vontade de beber água, porque ele diz o que eu não sei dizer.
Concordo quando diz que “Tudo é autobiografia”. Mesmo a ficção que cria, porque é sua ficção, não de outro, mas sua. E em toda obra do autor se concentram as reflexões, as crenças e descrenças, constituem um longo e profundo depósito de ideias, de sabedoria. Suas. Partilhadas com quem as lê. Com quem compreende o que lê. Este é meu breve “Porque gosto de Saramago”. Raso, porém sincero.
Mi*

Tenho medo de escrever.
É tão perigoso.
Quem tentou, sabe.
Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo
não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar.
Para escrever tenho que me colocar no vazio.
Nesse vazio terrivelmente perigoso:
dele arranco sangue.
Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras:
as palavras que digo escondem outras - quais? talvez as diga.
Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.
Clarice Lispector.

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