terça-feira, março 05, 2013


Meu coração está de luto

Sentados nas cadeiras do Viena, do shopping Plaza, Niterói, em 2010, vi meu amigo Capuano pela última vez... Ele pega seus livos que estavam comigo emprestados, também o certificado do trabalho que apresentei pra ele, num congresso da UFRJ... Tomamos um suco, conversamos bobagens... Falei que não adiantava ler Clarice porque a acho chatérrima, mas me sentia culpada por não amá-la como todos os literatas o fazem. Ele me tranquiliza, dizendo que há livros do próprio Saramago que não havia aguentado passar de algumas poucas páginas. Ou seja, fiquei convencida, enfim, de que eu não precisava gostar de tudo... Depois de falarmos horas sobre os livros lidos recentemente, ele comenta "Suspeitei de um câncer, fiz todos os exames, agora, nas férias. Não deu nada. Mas sofri muito achando que poderia estar doente. E disso tudo guardo a lição que se estivesse seria totalmente aleatório. Não há merecimentos... Apenas acontece". Fiquei com isso no pensamento por vários dias...

Lidar com a perda é algo que temos de saber administrar, mas nunca estaremos preparados totalmente. Hoje pela manhã fui surpreendida pela notícia triste de que meu professor de Lit. Portuguesa na faculdade, o super popular Cláudio Capuano, aquele que está aqui ao lado direito da tela, na foto do dia em que defendi na Uff, havia falecido. Fiquei dilacerada pela perda. O câncer nos levou mais do que um professor bom de lembrar, levou-nos um amigo, prestativo, alegre, contagiante.

Senti uma onda de remorso por não ter ido ao acarajé da Dinha, em Salvador, quando todos viemos do Rio para a ABRAPLIP, na UFBA. Só porque iria ficar tarde pra eu voltar pra casa da minha amiga, aonde dormiria, não fiquei para lancharmos no Rio Vermelho. Perdi a chance de guardar mais uma doce lembrança dele comigo...
:( 
Que neste momento você esteja bem pertinho de todos os poetas que me ensinou a respeitar e admirar. Espero mesmo que Saramago, Eça de Queirós, Pessoa, Camões... o recebam no infinito e que Deus o acompanhe também nesse novo, estranho, obscuro caminho.

Eu o guardarei para sempre na prateleira aonde coloco as pessoas especiais que conheci na minha vida. Lá, você sempre estará vivo... como as outras pessoas que ainda respiram neste planeta, mas que não as vejo muito, só as guardo, assim... com um carinho desse tamaaanhoooo! 

Estão aqui dentro da minha caixinha mágica de saudades a tarde em que conhecemos José Saramago na ABL, no Rio; as conversas e risadinhas dos catedráticos; as aulas, sobretudo, as em que você falava de "Os Maias", na Tijuca. O apoio dado a mim e à Bibiana Campos para estudarmos a Pós na UERJ, lugar onde  havia estudado. Você acreditava em nós 2 como estudantes apaixonadas por literatura...
Os livros que me ajudou a conseguir pra estudar o mestrado, por assistir à minha defesa, se deslocando de longe, atravessando a Baía de Guanabara e me levando um livro autografado seu, as vezes que leu meus trabalhos e me defendeu... Várias lembranças de conversas e telefonemas de um professor presente e doce, que me ouvia e ria das minhas bobagens. O som do seu sorriso estará comigo e jamais o vou esquecer. Vá em paz, meu amigo. Descansa agora. Já era hora... e você nem confirmou comigo que estava doentinho...
Mi :(

Um comentário:

  1. Michelle, você conseguiu expressar bem a essência do querido Capuano. Foi uma bela, sincera e saudosa homenagem. A perda abrupta de pessoas pelas quais sentimos um afeto especial faz-nos lembrar de que a vida é muito, mas muito curta para se guardar sentimentos ruins no coração. Um grande abraço.

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