sexta-feira, junho 17, 2011


Bom dia, vida!


A luz despiu seu cobertor
Bom dia, vida!
O meu corpo amanheceu
Com uma alegria menina!
Bom dia, bom dia!
Abro a janela ao convite
De um coral de passarinho.
Um sol cor de riso me veste
Da cabeça até os pés.
Respiro o aroma de terra,
Cheiro de orvalho e café.
Bom dia, bom dia!
Dia bom de colher flores
E um ramalhete de amores…
Bom dia, vida,
Bom dia!
Ilka Brunhilde. Brincando de amor. São Paulo: Moderna, 2003.


P.S. Poeminha para decorar e declamar ao namorado pela manhã. Genuíno, doce, quase infantil!...




A verdade do encontro

Os outros, eu conheci por ocioso acaso.
A ti, vim encontrar porque era preciso.
(Guimarães Rosa).





Câmera:
a nova contadora de histórias da contemporaneidade


Ver novelas fez ou faz parte da rotina de muitos brasileiros. As meninas crescem vendo as tramas, emocionando-se com as histórias complicadas dos casais. Mas de todas as narrativas visíveis que nos fizeram companhia nas horas ociosas, nenhuma foi melhor, mais bem tramada, mais bonita do que “O clone”. E falo com o olhar de quem foi e veio pelos meandros de literaturas sérias e engajadas. Falo com propriedade.

Geralmente, as novelas, claro, são veiculadas com fins comerciais: vendas de produto através de entretenimento. Por vezes, esse produto pode ser uma ideia, um comportamento, uma nova ou antiga visão. É uma receita que funciona. Nessas narrativas, o foco dado pela voz-câmera é veriado, de modo que fica difícil saber quem são os protagonistas. Nesta, não.
Os personagens principais não são confundidos facilmente. Vê-se que a história gravita em torno dos dois que se escolheram, mas adiam demasiado a união definitiva devido a dilemas comuns á humanidade: dúvidas juvenis e inseguranças (Lucas); submissão forçada por uma cultura patriarcalista em que a mulher é vista como tendenciosa ao pecado (Jade). É o mito de Eva que se eterniza...
'"Engraçado" ver como a protagonista, amiúde, surge acuada como um bicho: presa no quarto, presa na casa, presa do lado de fora da casa, vagando com a mala na mão, fugindo em ruínas com a pequena nos braços. Sempre diante dos ditames de uma religião déspota, inadaptável aos avanços da humanidade. A opressão feminina sobrevive, se desenrola anos a fio, pois veem a mulher como uma mera procriadora (Quanto primitivismo, meu Deus!)

A escolha das palavras e expressões, a trilha sonora, a edição, foi tudo muito bonito. Penso que foi feita por milhares de mãos, como as de quem constroem castelos de sonhos. O diretor expôs claramente os paralelos entre os personagens, exibindo imagens que quando não se contrapõem, se somam como nuanças bem definidas de cores. Quando se veem imagens da vida de um, episódios da vida do outro são emparelhados, revelando caminhos opostos, mas unidos pelo olhar da câmera-narradora que não hesita mostrar também os encontros e reencontros de J. e L.

Vejo todos os dias (de novo). Foi uma história que mexeu comigo no final da minha adolescência... Ver uma mulher emparedada pelo Amor e ódio desenfreados de um homem machucado pelo desamor (Said), subjugada pela religião hostil, fragilizada pelos limites impostos, sedenta pela liberdade de viver com um homem (agonizante tb) que vem e vai. Um amor escolhido do seu próprio coração mas que não o pode viver... tudo isso nos faz refletir sobre a nossa cultura e valorizá-la mais (Amo meu brasil! Como é bom ser mulher aqui, no século XXI, num país livre [livre até demais?]).


Enfim!...
Isso, claro, desperta emoções e sentimentos. É uma delícia reviver essa história. Em cada abraço de reencontro, vejo uma identificação com todas nós que amamos, e aguardamos, ardentemente, o cálido afago dos nossos namorados que vivem longe, que vão para longe...
Em qualquer época da jornada do ser humano, todos nós de sociedades atuais ou antigas adoramos ver, sentir e ouvir uma boa e bem contada! história. Isso ninguém pode negar...
Mi.

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