segunda-feira, dezembro 27, 2010



Pequenas coisas


Por que as coisas mais importantes, por vezes, passam despercebidas? Será que são demasiado pequeninas? Do tamanho de uma formiga? Invisível a olhos nus?
Nem sempre!, porque, constantemente, elas são bem grandes, gente de carne e osso, mas não as vemos...
Era sobre esse tipo de insensibilidade para perceber o necessário e a realidade gravitando ao nosso redor de que Saramago tanto falou no “Ensaio sobre a cegueira”.
Claro que o essencial pode vir mesmo invisível aos olhos, para vermos bem só com o coração (Exupéry), pode ser aquele fio conectando nosso computador, dando energia para ele brilhar e exercer todas as suas funções... pode ser aquela amizade verdadeira que, em algum momento das nossas vidas, não demos (não damos) muita importância. São tamanhas as possibilidades. Há camadas e camadas de coisas especiais em torno de nós e, ainda assim, desenvolvemos uma cegueira horrível, branca como no livro, de tão clara e evidente que é o Real.
Eu me pergunto por que tanta dificuldade em reparar? "Olhar" todo mundo pode olhar, mas reparar é mesmo diferente. Por que desvalorizar o importante, supervalorizando ilusões? Elas, amiúde, são puros insetos e lixo psíquicos!


Eu pratico o desconcerto do mundo (Camões) e a cegueira saramaguiana... já que comporto em mim contradições e vivo, em alguns aspectos, de olhos vendados. Minha cunhada psicóloga diria “é resistência insconsciente”.  Receio de olhar de frente o Minotauro e ser devorada por ele... (A realidade pode nos parecer um monstro mítico). E o resultado disso é o congestionamento de sonhos, aguardando o sinal verde das dificuldades para poderem seguir em frente. Sem se apoiarem no Real, os sonhos estagnam. E o que era uma "inocente" proteção torna-se patologia. Isso fabrica pessoa cegas... "Cegos que vendo, não veem" (Saramago).  
Apesar da confissão, observo o despertar da uma consciência, há muito, adormecida, rasgando, devagar e sempre, o véu de Maya...
Sinto-me pronta para encarar mais (cada vez mais) os fatos e nao me deixar arrastar pelo "canto da sereia". Até que, um belo dia ensolarado desses, os velhos medos não me assustem mais... podendo, enfim, dar mais (muito mais!) importância ao que verdadeiramente é bom, importante, anti-supérfluo.
Mi.

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