sábado, agosto 21, 2010




"O melhor está nas entrelinhas"
  (Silence is golden)

Estava borboletando pelos blogs, fotologs e diários online alheios. Não de amigos, pq na nossa idade as pessoas tendem (TENDEM) a escrever de maneira mais, como diria... profunda? Esses que li me pareceram mais adolescentes em fase de descobrimento (ou "cobrimento") das coisas.
Achei tais textos engraçados e, claro, lembrei muito de mim em tenra idade, seguida dos meus vinte e poucos anos.

O jeito das meninas escreverem, aquela linguagem mista de ansiedade e exibicionismo, um toque de deslumbramento somado à necessidade de falar de si, de seus dias, o quão são tediosos ou felizes, mas, enfim, uma necessidade avassaladora de provar (talvez, mais a si mesmas) que estão vivas, tudo me cheirava à ansiedade e a um pouco de angústia disfarçada em notas sobre festas.
Sem pensar, acessei a um antigo site onde escrevia. Reli as narrativas antigas, abandonadas, largadas às traças e à poeira do tempo, à frieza da tela...
Na verdade, me surpreendi, pq aos vinte e poucos me revelei um tiquinho mais amadurecida, de modo que a minha escrita já pendia mais para o poético trazido das Letras clássicas apreendidas em solos cariocas.
Claro que, na época do diário escrito à mão, escrevia muitaaa abobrinha: a ansiedade em dias de shows (sobretudo quando comecei a seguir o Roupa Nova com o fã clube); ou quando ia aos bons restaurantes do Rio, ou mesmo do nordeste (Fsa, SSA, Recife, Maceió), sempre punha lá.
Queimei muitos diários em 2000, com minha amiga Jack, porque havia me enchido de tantas lembranças arquivadas de maneira tosca, no sentido mesmo de inacabado, infantilizado das palavras.

Enfim...
Lendo tais meninas, uma que trabalha com meu Karma, lembrei de minhas fases anteriores.
Hoje, já não sinto a menor vontade de falar sobre meu dia a dia em diários.
Preguiça? Não... Amo escrever... Acho é que nosso estilo, quanto à escrita, muda mesmo com o tempo. Requinte não faz mal a nenhuma mulher de trinta anos (cravados, no meu caso).
Talvez isso seja só amostra de que prefiro discrição à exposição do meu cotidiano. Para que falar aonde fui, com quem fui, o que fiz, o que provei? Com detalhes ainda? Não, não. O silêncio vale ouro... Vale muito. Como diria Lulu Santos "O que eu ganho e o que eu perco ninguém precisa saber".

Claro que escrevo ainda... Contudo, a linguagem é outra!... Menos supérfluos. Menos exarcebação do meu léxico.
Escrevo, sim, sobre as minhas queridas e distrativas viagens, mas vejo que é algo mais sutil, mais tranquilo como a vontade singela de guardar a lembrança em formato de narrativa, menos superficial.
Acho que trago a dicção de quem se acalmou diante das intempéries da vida, de quem sabe que entrar e sair de um lindo lugar pode significar nada se, antes, não tiver entrado, mergulhado, na verdade, em mim, revendo erros e acertos, refletindo sobre posturas etc., me perdoando, crescendo. 
Do contrário, sem antes estar centrada em mim, não conseguiria sentir a anergia de lugar algum, tampouco das pessoas com quem divido lindos momentos (nem mesmo os feios [ruins] com o quais aprendo mais ainda).
Há como dizer de nós em diários online ou secretos, sem dizer tanto, sem dizer tudo tão claramente, pq, senão perde até o gracejo na simbologia e sutileza das coisas.
Porque, afinal... "Já que há de escrever que ao menos não se esmaguem de palavras as entrelinhas. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas estrelinhas".

P.S. Sempre que penso nesta frase de Clarice, lembro da minha boneca, a Flavinha. Recitamos algumas vezes em voz alta e era uma delícia dizermos sorrindo, saboreando as letrinhas. Nunca vou me esquecer dela...
By Mi*




Sentir Saudades de Não é a mesma coisa que Sentir Falta de

Não estou bem certa sobre isso, mas me ocorreu que existe, sim, uma tênue e sutil diferença entre "sentir saudades" e "sentir falta" de algo ou de alguém.
É meio doido isso, contudo, usando o condimento da sensibilidade, facilmente há como experimentar essa diferença. "Sentir falta de" soa como uma necessidade a ser suprida urgentemente, porque, do contrário, dói, angustia...

Saudade, não...
Parece-me uma sensação mais calma, beira à Nostalgia, habita esse campo semântico. Pensar na palavra "Saudade" me faz até saltar para um lugar mais além... remete ao território das poesias ou das lembranças, espaço onde é possível pisar, por vezes, sem querer, ou mesmo querendo, não é um terreno praticamente inóspito, sufocante, devido à urgência do desejo.
A verdade é que "sentir saudades" se distingue, de fato, do "sentir falta".





Sentir a falta de certas pessoas (namorado), por exemplo, me faz imediatamente criar imagens de lacunas, espaços vazios, em branco, buraco enorme e sombrio.
Pensar em Saudade me lança a coisas simples, como o cheiro do bolo da minha mãe, ou da Angela, ou da leitura daquele livro querido, algo que posso ter sempre e mesmo não tendo, não dói... não inflama, não me faz sentir nem um vazio, porque é mais doce, mais terno, talismã querido guardado na gaveta da memória.
"Falta de" talvez seja "estar vazio de", a ponto de angustiar-se e de tudo ficar cinza, down, depressão.
"Saudade de" seria, quem sabe?, estar cheia de... lembranças (tristes ou alegres, mas sem urgência, sem amargura).
Não estou bem certa ainda sobre isso, mas talvez observar essas distinções faça mesmo algum sentido.
Mi*

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