domingo, agosto 01, 2010



A busca

Constantemente, ouço frases dizendo sobre a perene insatisfação do ser humano. Estamos sempre em busca de algo e, quando atingimos o alvo, elegemos outro e assim sucessivamente. Geralmente, não nos sentimos inteiros por muito tempo. Logo nascem outras vontades... E se fosse diferente, não estaríamos vivos. Viver é isso... estar incessantemente à procura de preencher vazios (antigos ou não), lacunas, como se estivéssemos (e estamos) em permanente construção, crescendo e eternamente querendo nos alimentar de algo, às vezes, sem nome.
As buscas, afinal, justificam nossa existência e o Desejo torna-se combustível para continuarmos vivos.
Sempre me lembro do poema épico "A Odisseia" e de seu Ulisses cuja vontade de viver o fez abandonar a calmaria e certezas do Paraíso onde viveu por anos com a deusa Calipso. A Ilha de Ogígia e sua paz entediante não conseguiu mantê-lo ali, porque ele havia perdido a vontade de viver, os desejos lhe haviam sumido de todo o coração. Sem desejo o que seríamos? Fantasmas, zumbis...
Já me flagrei com diversos tipos de vontades. Cada uma mais diferente que a outra. Vontade de cheirar livro empoeirado de biblioteca', de tomar sorvete no frio, de abraçar alguém mesmo estando com raiva dele. Mas, claro, geralmente, minhas vontades manifestam-se de forma mais comum e em perfeita sintonia comigo e com os acontecimentos.
Desejos coerentes ou incoerentes, o fato é que sem estes ou sem aqueles tudo perderia completamente o sentido. 
Mi*



Bebido o luar, ébrios de horizontes,

Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

Sophia de Mello Breyner Andressen.

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