quarta-feira, outubro 14, 2009

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Para o Pequeno Príncipe
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Nossa, há quanto tempo...
Como vão as coisas no seu pequeno planeta?
Aqui, no meu, andam imensamente estranhas – muito baobá para pouca flor, se é que você entende meus simbolismos. Quem sempre fala de você é aquela ex-miss que vivia chorando por sua causa, lembra? Ela me contou da sua amizade com a Raposa.
Príncipe, como você é meu amigo de infância, não posso deixar de alertá-lo. Cuidado com a Raposa. Ela parece uma coisa, mas é outra. Faz-se de fofa e é uma cobra, uma chantagista. Quando a conheci, ela disse que não podia conversar comigo, pois não sabia quem eu era.
“A gente só conhece bem as coisas que cativou”, ela falou, toda insinuante.
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Respondi que, se nós duas nos cativássemos, ela ficaria triste quando eu fosse embora. Foi quando saquei que ela queria ter um cacho comigo, pois a Raposa pegou no meu cabelo – eu estava loira na época – e disse que tudo bem, porque ela olharia os campos de trigo e se lembraria de mim. Marcamos um encontro para o dia seguinte, às 4. E ela me pediu para chegar às 4 em ponto, dessa forma ela ficaria feliz desde as 3 somente por esperar o momento do nosso encontro.
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Achei estranho, mas pensei que fosse charme. Não era.
Cheguei 15 minutos atrasada e a Raposa surtou. Falou que nós somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. E perguntou para mim, olhando diretamente nos meus olhos, se eu tinha consciência de que “perder tempo” com o outro é o que faz essa história importante. Percebeu o tom de chantagem?
Ela joga na cara tudo o que faz em nome do outro.
Ela deseja afeto, mas o quer como uma responsabilidade de mão única.
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Porém, também somos responsáveis quando nos deixamos cativar – relacionamentos são vias de mão dupla. A Raposa exige a certeza de um compromisso com hora marcada, impondo regras à troca afetiva. As regras dela, claro, já que ela quer todo o afeto a favor de seu bem-estar. Chega a ponto de dizer que será feliz porque você virá. Como se a felicidade fosse algo condicionado ao outro, à espera do outro, ao encontro com o outro.
Veja que coisa infantil.
São as crianças que precisam de horários certinhos e de associar suas emoções às pessoas com quem se relacionam. Sentindo prazer ou desprazer diante da ausência ou presença da mãe ou do pai ou de quem quer que seja. Na criança, ainda não há um universo interior, entendeu?
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Quando nós crescemos, temos de conseguir ver o mundo através das próprias perspectivas. Enxergar a beleza de um trigal sem nos lembrar de ninguém. A Raposa, como uma criança assustada, quer que aqueles que a amam estejam com ela na hora em que ela deseja. Achando que eles são “responsáveis” pela felicidade dela. Ou seja, o outro lhe deve algo por tê-la cativado. Desde esse dia, não falo mais com ela. E aconselho você a fazer o mesmo. Ela não é flor que se cheire.
Saudades distantes,
Fernanda Young.
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P.S. Sempre quis postar esse texto Young.
É um desmoronar dos mitos de amor eterno trabalhados no livro de Exupéry.
É uma perspectiva de leitura que vale a pena conhecer também.
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Nas margens de um rio chamado Eu
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Olhe
Lá está eu!
Eu fluindo...
Sem saber para onde...
Sem saber desde quando...
Mas estou indo!
Em uma correnteza apelidada por Tempo.
Onde o Tempo não sei se sou eu que sigo
Ou é ele que me segue.
Karline Batista.

Meu amor é um passo de fé no abismo em seu olhar
(Abismo)

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Bem daqui onde estou
já não dá pra voltar
Nas alturas do amor
Onde você chegar
Lá eu vou...
E o que mais a fazer
a não ser me entregar?
A não ser não temer
O abismo em seu olhar
ou é mar?
O seu olhar...
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Não há precipícios na vertigem do amor
Só descobre isso quem se jogou
Não sou eu que me faço voar
o amor é que me voa
E atravessa o vazio entre nós
pra te dar a mão
Não sou eu que me faço voar
o alto é que me voa
Meu amor é um passo de fé
no abismo em seu olhar
Ah, ah, ah...
No seu olhar
Me vejo andar no ar
lá no abismo lindono seu olhar.
Jorge Vercilo.

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