segunda-feira, outubro 19, 2009


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Cacos de vidro e os pedaços de mim
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Parece engraçado ver como os vidros quebrados se partem
e se espalham em tamanhos variados. A espaços, esbarro-me ainda com cacos daquela xícara que
Se quebrou, estendendo-se por lugares inesperados e escuros: constantemente, prontos para cortar.
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Pensei em quantas Michelle’s me dividi ao longo desses anos.
Em tamanhos irregulares como os vidros quando se quebram? Algumas pessoas guardaram, talvez, pedaços maiores meus? Ou pequenos? Mais afiados?
Onde estão todas as impressões que causei? Será que me estilhacei como aqueles cacos de vidro no chão e por toda a parte da sala de estar? Será que me escondi, cortante, em algum coração no escuro? Ou brilhante, como uma lembrança feliz? Ou será ainda que, em maior proporção, alguém lembra de mim como algo quisesse abraçar inteiramente, como um bloco sólido, uma forma regular e preenchida?
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Sem querer, nós todos nos dispersamos, dia após dia, nos desdobramos através de percepções alheias. Somos seres fragmentados, como raios partidos da mesma luz. Eu mesma vejo-me como esse vidro que se partiu há pouco na sala de estar: desmontada em pedaços maiores e menores, como parte de algo que, algum dia, foi inteiro (Será?). Inevitável é não desejar que, numa hora dessas qualquer, possa conseguir reunir meus pedaços. Ao mesmo tempo reconheço meu destino de ir para além de mim própria, de me desgarrar, me desprender...
O lado positivo do cristal trincado e partido é que ele ultrapassa os limites do ser si mesmo, traz o caos e a busca pela ordem, mesmo que a regularidade de antes se torne impossível. Será que somos colados pela vida o tempo todo?
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Escrevo, teço e discorro. Penso: O que são essas palavras? E os cacos de mim me gritam dos pequenos brilhos espargidos: elas são a minha eterna tentativa de reconstituir, na escrita, os estilhaços de um todo em mim.
Michelle.

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