quarta-feira, março 25, 2009



Elegia



Nem os dias longos me separam da tua imagem. Abro-a no espelho de um céu monótono, ou deixo que a tarde a prolongue no tédio dos horizontes. O perfil cinzento da montanha, para norte, e a linha azul do mar, a sul, dão-lhe a moldura cujo centro se esvazia quando, ao dizer o teu nome, a realidade do som apaga a ilusão de um rosto. Então, desejo o silêncio para que dele possas renascer, sombra, e dessa presença possa abstrair atua memória.
Nuno Judice



Vanidade


Há dias em que tudo o que planejamos parece-nos que pega outro curso, cheio de independência em relação ao que queríamos. Hoje está sendo mais ou menos (completamente) assim.
Acabei ficando em casa, peguei um livro sobre morofologia para estudar, mas acabei apenas "catando milho", folheando sem muito rumo as páginas, marcando alguns rabiscos mais para preencher o tempo vazio do que por vontade. Escrevo, como diz Clarice, para compor meus silêncios, para olhar para trás no final do dia e pensar que ele não foi de todo em vão. E nunca o é.
Mi*
*****

Poema:

Sonhei contigo embora nenhum sonho possa ter habitantes
Tu, a quem chamo Amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a esta palavra.
É verdade... o sonho poderá ter feito com que, nesta rarefacção de ambos,
a tua presença se impusesse - como se cada gesto do poema te restituísse um corpo que sinto ao dizer o teu nome, confundindo os teus lábios com o rebordo desta chávena de café já frio.
Então, bebo-o de um trago o mesmo se pode fazer ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência das fontes.
É isto, porém, que faz com que a solidão não seja mais do que um lugar comum... saber que existes, aí, e estar contigo mesmo que só o silêncio me responda quando, uma vez mais te chamo.
Nuno Júdice.






A estátua do Corcovado é a imagem mais bonita que
fizeram do Cristo: um deus de braços abertos e não
com feições de dor pregado na cruz.





Um a mais

...

Sonhei contigo esta noite, foi bom voltar a ver-te. Estavas sentado, enviando-me pelo laptop canções que nunca ouvi, cheguei de mansinho e balbiciei qualquer frase para poder penetrar o teu silêncio sem assustá-lo. Teus gestos não me pareciam muito ávidos, estavas calmo, com uma leve sombra nos olhos. Mesmo assim, abraçou-me com paixão. Beijamo-nos diversas vezes, colhemos carinhos nas pontinhas dos dedos um do outro, caminhamos um pouco e tudo o que tínhamos à frente era o longo caminho de uma rua nua, sem asfalto nem calçamento. Apenas a terra seca e a íngreme estrada. Como sempre, foi ma visão tão e demasiamente real que ainda posso te sentir nos meus braços, como um menino perdido farejando abrigo. Despedimo-nos entre outros milhões de beijos e carícias. Não vi quando tu te foste ou como fui tola em ter saído da tua presença. Mesmo num sonho, não deveria tê-lo deixado sozinho. Nem por um minuto. Acordei sorrindo. Havia muito tempo que não o via em sonhos assim. Continuei a dormir, desejando que tivéssemos chegado até o topo daquela vista juntos. Inseparáveis... Sonhei contigo esta noite e foi muito bom voltar a ver-te.

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