segunda-feira, março 16, 2009


A última rosa

Disseram-me sobre um túmulo de palavras.
Será que é este aqui? (pensei).
Uma voz me disse: É preciso deixar a última rosa para sentir se é verdade.

Mas, antes de deixá-la, quis me demorar um pouco mais com ela ali, inteira nas mãos. Lembrei-me da primeira vez que o vi. Resplandecia tu... Nascia eu.
Tudo gravitou em torno de ti e, por isso, deixei-me a sós, me pus à espera de um novo tempo. Este tempo não veio, embora me tivesse deixado a porta entreaberta e aquelas brechas me dessem esperanças, falsas expectativas que me enfeitavam a vida enquanto a morte não chegava.
Fui até às palavras deixar-te esta última rosa, não há mais outra em meu coração.
Dei-te todas e todas se despetalaram, ressecaram-se, cobriram o chão do meu passado de um cheiro fétido de desilusão. Contudo, havia nos restado ainda esta. Tinha a guardado para enfeitar este túmulo de palavras. Foi o que sobrou.

A morte foi lenta, milimetricamente lenta, contada... O tempo me disse É hora de dizer Adeus. Eu me preparei. Enfeitei os cabelo com a última rosa, guardei a ilusão debaixo da terra, sacudi a tristeza, enrolei o Passado com fios das minhas lágrimas, levantei para estender nestas palavras inteira a rosa: seus espinhos, cabos e pétalas que se desfarão e apodrecerão, como o meu amor.

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