sábado, março 28, 2009


O corpo do diabo: entre cruz e a caldeirinha


Faz um ano que comprei este livro da Silvia Nunes e não consegui me entregar à leitura como desejava. É o tipo de livro que não consigo ler antes de dormir, porque simplesmente não consigo dormir após a leitura de um parágrafo sequer.
Dá-me taquicardia somada a uma profunda inquietação.
O livro é ótimo, um conteúdo com o qual me identifico sobremaneira, além de bem escrito. O triste (e é isso que me deixa com o coração acelerado) é o fato de ler sobre tantas atrocidades e enganos cometidos em detrimento da Mulher.
A autora mostra como a imagem feminina se constituiu ao longo dos três últimos séculos, com o propóstio de formar uma sociedade em que ela devesse adquirir determinado perfil. Num mundo machista, o jeito de nos controlar era, de fato, estabelecer modelos de mulheres ideais.
Logo na introdução, ela cita a frase de Nelson Rodrigues "Toda mulher gosta de apanhar", que se seguiu da ideia freudiana de que a mulher era tendenciosamente masoquista. Por fim, ela ressalta que esta noção, no entanto, já vinha sendo difundida e que tais nomes ilustres (NR e Freud) estavam apenas explicitando a forma como nos viam dentro da sociedade.
Na verdade, a visão da Mulher como sexo frágil foi propagada, mormente, a partir do século XVIII, quando supuseram a necessidade de repaginá-la, mas se baseando ("claro") em princípios preexistentes no criastianismo (vide Maria Madalena e Maria Virgem [importância abafadas]). É quando chovem, no mundo das artes, pedidos de imagens femininas (telas e esculturas) de santas, como protótipos, modelos de representação.



Imagem: Fillipo Lippi

Os médicos oitocentistas diziam comprovar que as mulheres eram fracas desde sua genética e estenderam esta noção para os aspectos moral, psicológico e espiritual.
Ou seja, a mulher além de fraca genéticamente falando, possuía natureza desequilibrada, degenerativa e cabia à igreja e à sociedade se moblilizarem para reeducar o sexo feminino (da maneira como lhes conviessem).
Um novo perfil de Mulher, surge, então. Maria Madalena ganha relativo destaque em algumas igrejas e a imagem da Virgem (madona) com o menino Jesus passa ser difundida, fazendo propaganda de como deveria ser uma Mulher: pura, bondosa, FÉRTIL e sem expressividade, além da que se referisse ao eixo doméstico, esposa e mãe).
Convém um parêntese em referência à Maria de Magdala, antagonista da versão perfeita de pureza representada pela Virgem Maria.
Foi necessária, pois, uma nova formulação, já que talvez prevessem o novo advento do posicionamento feminino (Subverssivas amazonas?!).
Como provoram a fragilidade anatômica da Mulher, quiseram (médicos) convencer a sociedade de que ela possuía uma sexualidade muito forte mas não era capaz de controlá-la, levando-a à prostituição e a auto-destruição.
Os homens tinham que fazer algo, uai! Domesticar-nos, antes que nós lêssemos muito e ficássemos muito "espertinhas" a ponto de retomarmos as concepções celtas matriarcais, talvez? Fala sério!... Alguém merece isso? Mas, como não é a proposta deste blog de me prolongar em questões políticas, registro aqui apenas meu grito de tristeza diante do assunto. Enfim o que vale é dizer ainda que o livro traz uma proposta fantástica. Vou tentar lê-lo sem levantar da cama demasiado, movida por uma indignação inquietante que, certamente, fervilha em mim desde tempos remotos (outras vidas, talvez. Se é que existem).

Mi.

P.S. O que eu sei é quase nada, mas desconfio de tudo - Grande Sertão: veredas.

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