sábado, dezembro 13, 2008


Nos últimos dias, o pensamento que mais me tem vindo à cabeça é o sobre a diluição vertiginosa do tempo. Isso tem, por vezes, me atormentando.
Sou atravessada (cada vez com maior intensidade) por uma profunda vontade de viver. E esta vontade se vai entrando, se cavando em mim todo dia um pouco mais profundamente. Tudo parece ter ganho um sentido e uma forma só meus, diferentes de todas as outras maneiras de consciência de felicidade que imaginei alcançar algum dia.
Por que eu escrevo em diário há tantos anos?
Para me automodelar? Para me autoficcionalizar?
Moldar uma cópia autenticada? Remontar o quebra-cabeças do meu dia-a-dia comum? Listo meus dias para compor um trilho... Um trilho que me permitirá, algum dia, percorrer o caminho de volta ao passado. Escrevo para compensar a pulverização do Passado e do Eu deste Passado, para personalizar ambos, para exercer minha memória e me inocentar diante do tribunal da minha consciência...
Escrevendo, me individualizo eme distinguo da multidão. Faço monólogo com o Futuro como se lançasse ao mar uma garrafa para eu mesma encontrar mais tarde. Este é meu laboratório de introspecção, onde exerço sem culpas a primeira pessoa gramatical. Meu seguro de vida, seguro de que continuarei viva, deixando nos escritos a minha atual doçura de existir nas palavras. Porque quando releio, consigo resgatar, das profundezas do passado, o frescor da voz de uma identidade narrativa que anseava pela ilusão de eternidade...
Blimunda da Maia*

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