quarta-feira, setembro 17, 2008


Frio e neblina

A cidade, o mar, toda a parte parecem cobertos por neblina. O frio gela e arrepia a pele
Vim da aula, o tempo inteiro, olhando aquela névoa embaçando a vista da praia.
Na areia, o movimento do mar lambendo a terra, deitando-se nela e recuando com o vento, tudo se comprometia com a brancura que paira. Em pensar que este vento viaja quilômetros pelo oceano até chegar à costa. Na verdade, não é nada disso que quero escrever. (Bobagens, “mera ruminação de um Eu tagarela” [Blanchot] em observações autoreferenciais e comuns). Estou com frio e me pus a escrever. É este meu vinho em dias frios. Já entrei naquela fase da escrita da dissertação que só penso sobre o "que escrever". Vejo o tempo que evapora. Ele é uma ilusão perseguia pelo Eu autobiográfico. Quem escreve autobiografias, diários ou simplesmente fala sobre estes, percebe a necessidade do sujeito em tentar achar uma coesão pessoal na escrita. Sei lá... fechar, trancar suas lembranças dentro do pote autobiográfico, na ilusão de que conseguiu apreender o tempo que há muito lhe escapou das mãos.
Nós somos o tempo, o próprio caminhando, refazendo-se...
Ao fim e ao cabo, continuamos nossos caminhos, nossa própria parcela de tempo.
"Nós somos o próprio tempo que, em si mesmo, não se reconhece". Por isso, escrevemos diários, autobiografias, cartas... Ficcionalizamo-nos, tentando juntar os pedaços de nós: Passado, presente. Nossa inteireza... onde está? Escrevemos com ares de quem intenta ter uma visão global da unidade pessoal. Como quem contempla, de cima, "a máquina do mundo" lusíada. Esquecemos, a espaços, de que as palavras são apenas signos representativos de uma realidade que não pode ser substituída, em plenitude, pela realidade textual. Escrevi para me aquecer, mas o frio... continua, como o Tempo. Abri mão de unicidades, sei que sou fragmento. Narciso que admira sua essência fragmentada na escrita.
Mi*
Set./08.

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