50 tons de cinza
Vivendo nos 50 tons de vida real, fica difícil, por vezes, fazermos diariamente as coisas de que gostamos. Correr ou caminhar pelo lugar preferido, reencontrar amigos, voltar a cidades onde morávamos, matar as saudades do mar e das vistas hipnotizantes das montanhas cariocas, por exemplo.
E mesmo para uma professora, o dia a dia com suas várias tonalidades de afazeres pode inibir a prática de um hábito que nos é tão comum a todos: ler livros.
Mas nunca é tarde para regressarmos a esses momentos silenciosos cheios de amadurecimento palpável que, muitas vezes, uma câmera não pode nos oferecer. Ainda que esse regresso seja veiculado por livros à margem da literatura consagrada.
Os fenômenos paraliterários, às vezes, encontram pessoas resistentes a aderir a eles, seja por preconceito, seja por falta de tempo, ou de oportunidade mesmo. Seja por qual for o motivo que nos distancia da leitura, desse momento só nosso tão necessário e mágico, é preciso que trabalhemos um pouco a ideia de não desistir de ler, para que não percamos um exercício tão especial.
Para quem está aquém das leituras, sempre indico o recomeço por livros que contem histórias as quais realmente nos distraiam, deleitosas e que nos incitem a procurá-las, a querer lê-las ler por vontade. Não por obrigação.
Livros assim... despretensiosos, sem a menor preocupação em ser um daqueles usados em análises acadêmicas. Daqueles que falam mais em uma linguagem pessoal, micro e que nos fazem suspirar, tirar os pés do chão, já muito fadigados de trilar caminhos tão reais e cheios de contas para pagar.
Os "50 tons..." é uma leitura deliciosa por vários motivos. O narrador em 1a pessoa (amo!) como personagem do que se conta, a forma doce, erótica (sem ser vulgar), detalhada.. nos faz sair de nós e encarar o problema de um jovem casal apaixonado e pensar em quão doido alguém pode ser em relação a fetiches (cada uma maluquice que ainda choca).
Totalmente oposto ao livro, (que será sempre [sempre!] insubstituível), o filme é quase um arremedo de réplica (de 5a), por projetar a história mal contada pela câmera, cujo silêncio sufoca a voz da narradora em descrições subjetivas e objetivas pueris e rasas (caiu na superficialidade facilmente).
É pobre de descrição, de metáfora, o ator que faz o personagem de Grey (lindo) mas trabalha maaalll!, podia ter lido mais vezes o romance da inglesa fofinha, para tentar entrar no clima do enigmático protagonista. Contudo, como nem tudo foi perdido, há uma cena no final que remonta (pelo menos!) de forma aceitável o momento em que Anastasia experimenta um nível alto de prática sadomasoquista e se afasta do príncipe contemporâneo às avessas.
Desta forma, quanto mais não seja, vale a pena voltarmos ao mundo solitário das leituras sob qualquer perspectiva literária. A minha, em particular, está sendo essa, a dos "50 tons". E com certeza, será como a leitura de "As brumas de Avalon", da qual, quem a ler, jamais a vai esquecer. Super indico!
by Mi.